"Você sabe que não é o primeiro. Mas você realmente se importa?" O falso anúncio da empresa de carros Aston Martin suscita um questionamento delicado. A ideia é que comprar um carrão usado se compara a transar com uma supermodelo. Mas a analogia acaba por aí.
Por muito tempo em quase todas as culturas se deu muita importância à castidade feminina como uma medida de valor. A virgindade, termo elusivo, era a maior preocupação quando um homem decidia buscar uma esposa. O simples fato da moça nunca ter sido tocada por outro homem se comparava a um fetiche similar à busca pelo sagrado, pelo imaculado. Ignorando o fato que nenhum pai iria se negar a segurar a filha nos braços no momento do nascimento para mantê-la "intocada".
Gostaria de poder usar a conjugação do pretérito para continuar o texto, mas este tipo de prática ainda hoje é usada. Um forte exemplo é a cultura islâmica. Mas uma forma mais primitiva deste sentimento ainda é encontrada até nas sociedade mais desenvolvidas culturalmente. E não é exclusividade da religião tratar as mulheres desta forma. Muitos pais ainda se sentem mais confortáveis em ver a filha de 22 anos que namora o mesmo cara desde os 16, com quem perdeu a virgindade, do que da outra filha mais velha, que já está no 5º relacionamento.

Até entre os mais jovens este tipo de sentimento acaba aparecendo. Confesso que experienciei em primeira mão a sensação primitiva de ciúmes quando minha namorada fala dos relacionamentos anteriores. Mas não sobre o que ela sentia pelo outro cara, e sim pela certeza de que aqueles lábios, aquele pescoço e aquela zona maravilhosa entre as pernas já havia sido tocada inúmeras vezes.
É algo irracional e instintivo, talvez resquícios de uma prática que ficou enraizada no subconsciente. A contrapartida, por sua vez, é totalmente consciente e depende da razão. As experiências sexuais passadas contribuem para o prazer do presente, e o mesmo vale para mim. Minhas próprias relações me ensinaram coisas que posso agora usar com a minha parceira, satisfazendo-a de forma cada vez mais plena. E ela a mim.

Outra coisa que pode passar despercebida é a primazia no amor. O lugar mais difícil de conquistar e que parece valer tão pouco para tantos. Sei que sempre fui o primeiro no coração dela e isto vale muito mais do que qualquer outra coisa. Então não busque afirmação de masculinidade procurando e convencendo garotinhas virgens a ser "o primeiro". Quando um homem de verdade escolher dedicar-se a amar verdadeiramente esta mesma garotinha, independente de ter perdido a virgindade contigo, ficarás esquecido, ou mesmo lembrado muitas vezes como uma lembrança ruim.
E termino citando a frase mais importante do filme Nymphomaniac de Lars von Trier: o ingrediente secreto para o sexo é o amor.
"Já pratiquei sexo oral com outras pessoas, mas com ela é o melhor. Ela já teve orgasmos com outras pessoas, mas comigo é o mais intenso." Trocar o primeiro por o melhor não é uma diferença assim tão perceptível. O melhor seria dizer que ela está agora com você e te ama e é isso que importa. "Ela escolheu estar comigo e isto conta muito mais do que a quantidade de virgindades que tenho no currículo." Colocar virgindades no currículo é continuar essa visão de que o melhor da mulher é ser o primeiro.
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ResponderExcluirNão é tão perceptível justamente pelo valor que foi agregado ao termo "primeiro" ao longo do tempo, que é exatamente o que questiono ao longo do texto. Se desejas almejar algo em relação ao sexo que te aumente a auto-estima, que seja ser o melhor. E usei deliberadamente a expressão "virgindades no currículo" para criar a sensação de ironia, mas se analisas em termos lógicos, é sim contraditório. Ressalto que este texto não tem pretensões de ser um tratado lógico-filosófico de conceitos bem-estabelecidos e precisão absoluta.
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